Imagem de filme hollywoodiano "Trainspotting", entitulada "Perfect Day", simbolizando jovem sob os poderosos efeitos da cocaína.
Um comentário importante: apesar da cocaína estar mais relacionada atualmente com o sério problema de saúde e segurança pública que de fato é, do que com a química ou os processos químicos, ela tem sim um papel fundamental e de relevância na história, inclusive da química. A importância química e farmacêutica, com efeito, poderia ser realmente muito maior se fosse tratada de forma mais cética e se a pesquisa pudesse realmente avançar de maneira menos burocrática, o mesmo ocorre com a planta da maconha e outras drogas ditas proibidas.
Introdução
A folha de coca, cujo consumo, mesmo se em grandes quantidades, leva apenas à absorção de uma dose ínfima de cocaína, é usada comprovadamente há milhares de anos pelos povos nativos da América do Sul.
Eles a mastigavam para ajudar a suportar a fome, a sede e o cansaço, sendo ainda hoje, consumida legalmente* em alguns países sob a forma de chá (*analizem aqui, a força que “governos” pensam ter sobre as pessoas, dizendo que podem ou não consumir folhas de uma planta que nasce e sempre nasceu livremente na natureza há milhões de anos). Os Incas e outros povos dos Andes usaram-na certamente, permitindo-lhes trabalhar a altas altitudes, onde a rarefação do ar e o frio tornam o trabalho árduo especialmente difícil.
O ingrediente ativo da planta da coca foi isolado pela primeira vez no ocidente pelo químico alemão Friedrich Gaedcke, em 1855; ele chamou-lhe “Eritroxilina”. Poucos anos depois, Albert Niemann descreveu um processo de purificação melhorado para a sua tese, e chamou-lhe “cocaína”.
A cocaína é extraída das folhas do arbusto da coca (Erythroxylon coca), mas só tem valor comercial quando refinada.
O uso e o abuso da cocaína alastrou-se rapidamente depois que Niemann conseguiu efetuar o seu refino, e a pesquisa sobre os efeitos da droga, tanto em animais como em seres humanos, começou a ser incrementada. Suas propriedades estimulantes chegaram a ser muito apreciadas no século passado.
Os propalados benefícios da cocaína motivaram o surgimento, na Europa e nos Estados Unidos, de uma grande variedade de preparados à base de coca, inclusive tônicos e remédios patenteados.
História da Coca
Muito antes da descoberta do processo da extração da cocaína, os índios do Peru e de outros países sul-americanos já mascavam as folhas da coca. Como não há registros históricos dessa prática, o conhecimento acerca do assunto nesse período deve-se a fontes arqueológicas.
Nativo Sul-Americano manipulando folhas de coca.
Os desenhos que ilustram peças de cerâmica encontradas em várias localidades situadas no noroeste da América do Sul fornecem evidências de que o hábito de mascar folhas de coca já fazia parte da cultura indígena antes da ascensão do império Inca, talvez já nos idos de 3.000 a.C., e que os efeitos da coca sobre a disposição e o comportamento eram apreciados pelos índios de maneira semelhante como nossa sociedade aprecia os efeitos do café atualmente.
Nos tempos pré-colombianos as folhas de coca eram oficialmente reservadas para a realeza inca. Os nativos usavam a planta da coca para fins místicos, religiosos, sociais, nutricionais e medicinais. Os “coqueros” exploraram as suas propriedades para enganarem a fadiga e a fome, aumentarem a resistência, e promoverem o bem-estar geral.
Seu consumo era extremamente controlado, o uso sem autorização era considerado um crime lesa-majestade. O imperador inca determinava pessoalmente quem conquistaria o direito de mascar as folhas de coca. A importância da coca na sociedade inca era tamanha que os nobres do império eram sepultados em meio a uma generosa quantidade de folhas do arbusto sagrado, pois acreditava que seriam utilizadas no paraíso incaico.
Na prática, os povos andinos utilizavam a folha de coca como estimulante, para amenizar a fadiga provocada pelos efeitos da latitude, para controlar as sensações de sede e a fome e, além disso, para suportar o frio intenso das regiões da Cordilheira dos Andes.
Quando os espanhóis chegaram, no século XVI, o império inca encontrava-se em declínio. Nessa época, a coca já não era mais usada apenas pela classe dominante ou associada aos rituais. Embora ainda ocupasse um lugar importante nas manifestações religiosas e culturais, há evidências de que muitas pessoas consumiam coca no dia-a-dia.
A coca foi inicialmente proibida pelos Espanhóis. Em 1551, o bispo de Cuzco proibiu o uso da coca sob pena de morte, porque era “um agente maléfico do Diabo”. O notável artista católico ortodoxo do século 16, Don Diego De Robles, declarou que “a coca é a planta que o Diabo inventou para a destruição total do povo”. Mas os invasores descobriram que sem o “presente dos deuses”, como os nativos a chamavam, mal conseguiam trabalhar nos campos ou nas minas de ouro. Por isso acabou por ser cultivada até mesmo pela igreja católica. As folhas de coca eram distribuídas três ou quatro vezes por dia aos camponeses durante breves pausas para descanso.
As folhas de coca foram levadas para a Europa pelos exploradores no século XVI, na mesma época em que outras substâncias psicoativas naturais, como o café, o chá e o tabaco, começavam a ser consumidas naquele continente. Mas, ao contrário destas substâncias, as folhas da coca não conseguiram popularidade até o século XIX. Isso se deve, certamente, à sua deterioração durante o transporte. As condições dos porões dos navios durante as longas viagens, com muito calor e umidade, aniquilavam as qualidades do produto.
No final do século XIX, a cocaína às vezes era ingerida oralmente, após ser dissolvida em elixires (alcoóleo açucarado e aromático usado como veículo para certos medicamentos) e vinhos. Essas soluções eram anunciadas como drogas milagrosas capazes de curar todos os males, reduzir a fadiga e melhorar a disposição. Embora a cocaína possa provocar seus efeitos característicos quando ingerida em solução, eles são relativamente menos intensos que os efeitos provocados quando consumida de outras maneiras.
Após visitas à America do Sul de cientistas italianos que levaram amostras da planta para o seu país, o químico Angelo Mariani desenvolveu, em 1863 o vinho Mariani, uma infusão alcoólica de folhas da coca (mais poderosa devido ao poder extrativo do etanol que as infusões de água ou chás usadas antes). O vinho Mariani tinha consumidores famosos como Ulysses Grant, o Papa Leão XIII, que até apareceu na publicidade do produto e premiou Mariani com uma medalha honorífica e Frédéric Bartholdi (francês, criador da Estátua da liberdade), que comentou que se o vinho tivesse sido inventado mais cedo teria feito a estátua mais alta (um sintoma de excesso de autoconfiança típico). Júlio Verne e Thomas Edson, falavam das qualidades do vinho nos anúncios.
Já no final do século XIX, havia 69 tipos de bebidas que continham cocaína em sua fórmula, e entre elas, a mais conhecida até hoje: a Coca-Cola, criada por John Pemberton, um boticário que havia inventado um tônico chamado Frech Wine Cola, que era constituído a base de álcool e folhas de coca e noz de cola, similar ao vinho Mariani. O problema era que o vinho Mariani era constituído fundamentalmente pelo vinho Bordeux que se tornou muito caro no EUA e Pemberton decidiu retirar o vinho da fórmula, surgindo assim a Coca-Cola que foi anunciada como “o tônico do cérebro e a bebida da efervescência intelectual”. A garrafa de Coca-Cola tinha seis onças, equivalente a 170 gramas, contendo em média dois miligramas de cocaína por garrafa. Apesar de a cafeína tenha substituído a cocaína da Coca-Cola, até hoje a bebida é aromatizada com folhas de coca descocainizadas.
Síntese da Cocaína
Em 1855, o químico Gaedecke extraiu um resíduo oleoso das folhas de coca, e com isso produziu uma substância cristalina à qual deu o nome de "eritroxilina". Anos depois, Albert Neimann, assistente de Friedrich Wohler, o conhecido "pai da química orgânica", isolou o principio ativo puro, ou o alcalóide principal, que foi denominado de cocaína. Apesar de já se conhecer a estrutura química da cocaína desde o fim do século XIX, somente em 1955 ela pôde ser comprovada.O nome químico da cocaína é 3-benzoiloxi-8-metil-8-azabiciclo. [3.2.1]octano-4-carboxilico (C17H21NO4). É uma droga cristalina, amarga, branca e sem cheiro. Induz uma sensação hilariante no utilizador, sobretudo por bloquear a recolha do neurotransmissor dopamina pelo cérebro.
Modelo de bolas representando molécula de cocaína.
O ingrediente ativo da planta da coca foi isolado pela primeira vez no ocidente pelo químico alemão Friedrich Gaedcke, em 1855; ele chamou-lhe “Eritroxilina”. Poucos anos depois, Albert Niemann descreveu um processo de purificação melhorado para a sua tese, e chamou-lhe “cocaína”.
A cocaína é extraída das folhas do arbusto da coca (Erythroxylon coca), mas só tem valor comercial quando refinada.
O uso e o abuso da cocaína alastrou-se rapidamente depois que Niemann conseguiu efetuar o seu refino, e a pesquisa sobre os efeitos da droga, tanto em animais como em seres humanos, começou a ser incrementada. Suas propriedades estimulantes chegaram a ser muito apreciadas no século passado.
Os propalados benefícios da cocaína motivaram o surgimento, na Europa e nos Estados Unidos, de uma grande variedade de preparados à base de coca, inclusive tônicos e remédios patenteados.
O uso da cocaína proliferou-se rapidamente depois que Niemann conseguiu efetuar o seu refino, e a pesquisa sobre os efeitos da droga e sua possível aplicação na medicina, tanto em animais como em seres humanos, começou a ser incrementada.
No início a cocaína surgiu como um grande avanço para a medicina. Além de estimulante, era utilizado como anestésico. A descoberta da cocaína foi publicada nas principais revistas médicas, tanto da Europa como dos Estados Unidos: tratava-se de um produto incapaz de danos secundários. A cocaína era utilizada para o tratamento da depressão, dores de dente, garganta, em cirurgias oftalmológicas e em tratamento da depressão química. Inclusive há relatos de cura da dependência do ópio através da cocaína.
Os laboratórios Merck e Parke Davis, dois dos maiores laboratórios do mundo, dirigiram uma campanha para comercializar a cocaína, especialmente para a classe médica. A cocaína era apresentada das mais diversas formas como: extrato de fluidos, vinhos, oleatos e saliciatos, inaladores, spray nasais e cigarros. A Parke Davis publicou: “Esperamos que seja freqüente a aplicação dos maravilhosos efeitos da cocaína na terapêutica geral, dos quais destacamos a melhora do estado de ânimo, o aumento das faculdades física e mentais, assim como o aumento da resistência ao esforço [...] Seria uma lástima que tão destacadas propriedades não fossem exploradas
Em 1914, um editorial da famosa revista londrina “The Gentleman's Magazine” apelou aos pesquisadores que iniciassem experiências que levassem ao uso da coca como “um substituto para comida que permita às pessoas viverem um mês, de vez em quando, sem comerem”.
A cocaína era grandemente usada em tônicos, curas para dores de dentes e medicamentos patenteados, nos cigarros de coca para “alívio garantido da depressão”, e em comprimidos com cocaína e chocolate. Um produto que vendia muito bem, o remédio “Ryno” contra a febre dos fenos e o catarro (“para quando o nariz está entupido, vermelho e dolorido”), continha 99.9% de cocaína pura. Os potenciais compradores eram avisados – nas palavras da firma farmacológica Parke-Davis – que a cocaína podia “tornar o covarde a corajoso, o silencioso eloqüente, e deixar o sofredor insensível à dor”.
Em 1883, por exemplo, Theodor Aschenbrandt, um cirurgião do exército, escreveu exaustivamente sobre a utilidade da cocaína para acabar com o cansaço nas batalhas e fazer com que soldados feridos lutassem. Seu trabalho chamou a atenção de Sigmund Freud, então jovem neurologista vienense, que se dedicou ao assunto.
Até bem pouco tempo atrás, a mais completa descrição dos efeitos psicológicos e fisiológicos da cocaína encontrava-se na obra de Freud, mais precisamente no "Uber Coca". Freud também fez experiências minuciosas acerca dos efeitos da cocaína na energia muscular, do seu tempo de reação e de sua influência na disposição psicológica.
Freud chegou a acreditar que a cocaína era uma droga miraculosa, capaz de curar vários males e de tornar mais agradável a vida normal. Em "Uber Coca", Freud sugeria o uso da cocaína para uma infinidade de propósitos terapêuticos, como:
Aumentar a capacidade física de uma pessoa durante períodos estressantes (isto é, em situações de guerra, em jornadas prolongadas, ao escalar uma montanha);
Restaurar a habilidade mental prejudicada pela fadiga;
Melhorar as "debilidades psíquicas", como a melancolia (termo antigo para "depressão").
Freud também recomendava a cocaína para distúrbios estomacais, mesmo aqueles que eram o simples resultado de uma refeição muito pesada, assim como para a asma e doenças supostamente causadas pela degeneração dos tecidos.
As doenças que Freud e vários outros médicos proeminentes do século XIX acreditavam poder ser curadas pela cocaína compõem uma lista realmente impressionante, o que provavelmente contribuiu para difundir a crença de que a cocaína podia curar tudo, até mesmo a sífilis. Mas a pretensão mais incrível, promovida pelo próprio Freud, era de que a cocaína poderia servir de cura para a dependência da morfina e do álcool. Para fazer tal afirmação, Freud baseou-se em informações obtidas, em grande parte, em relatórios publicados em jornais médicos.
Freud também parecia convicto disso, e chegou afirmar que "o tratamento para a dependência de morfina com coca, portanto, não resulta simplesmente na substituição de um tipo de dependência por outra; não transforma o dependente em morfina num coquero".
Ele receitou cocaína para combater a dependência em morfina de Ernst von Fleischl-Marxow. O paciente, porém, tornou-se dependente de ambas as drogas e morreu intoxicado por morfina.
Decadência da Cocaína
Em desacordo com a tese de Freud, o tempo revelou os malefícios da cocaína em seus consumidores: sintomas psicóticos e depressivos, insônia e relatos de abuso e dependência, onde o consumo era classificado por seus usuários como uma “tentação irresistível”, golpearam os elogios incondicionais que a substancia vinha recebendo ate aquele período. Por volta de 1900, pelo menos 400 casos agudos ou crônicos de danos físicos e mentais relacionados à cocaína já haviam sido publicados na literatura medica. Por volta de 1905, o consumo inalado da cocaína já era bastante difundido nos EUA, e o primeiro caso de lesão da mucosa nasal foi publicado pela literatura médica em 1910. As sociedades médicas, no inicio partidárias, e depois convertidas em ferozes opositoras da cocaína, passaram a criticar sua venda pela indústria farmacêutica, afirmando que esses haviam promovido a substância de uma maneira irresponsável e não científica.
Apesar do entusiasmo, os efeitos negativos da cocaína acabaram por ser descobertos.
Cocaína refinada e pronta o consumo em sua maneira mais difundida.
Desde os anos 30 até o fim da década de 60, o abuso de cocaína tornou-se praticamente inexistente, a não ser entre pessoas do meio artístico.
Há várias explicações plausíveis para essa queda do uso da droga, além da sua proibição. Em 1932, foi sintetizada a anfetamina, um estimulante psicomotor poderoso com propriedades semelhantes às da cocaína, e parece que essa droga substituiu a cocaína, pois era barata e fácil de conseguir com os médicos, como parte de um tratamento para emagrecer.
Restringiu-se o acesso à droga quando, finalmente, percebeu-se a extensão do seu abuso. Em 1972, o Foo and Drug Administration (FDA) colocou a produção e distribuição da anfetamina sob rígido controle.
Enquanto os males da anfetamina eram divulgados, algumas pessoas afirmavam que a cocaína não tinha efeitos tóxicos significativos. Poucas mortes por overdose de cocaína foram confirmadas, e parecia que alguns usuários de cocaína chegaram a procurar auxílio médico ou tratamento. O resultado foi que muita gente chegou à conclusão equivocada de que a cocaína era uma droga segura. Um relatório da Comissão Nacional de Maconha e Abuso de Drogas, de 1973, afirmava que não se observou grande ônus social provocado pela cocaína nos Estados Unidos. Devido à publicidade negativa sobre a anfetamina, que foi abandonada imediatamente, e aos boatos de que a cocaína parecia não apresentar a toxidade da anfetamina apesar dos seus efeitos semelhantes, esta acabou sendo redescoberta como uma droga recreacional na década de 70.
Atualmente a forma mais difundida para a venda da cocaína é em forma de pó. O pó geralmente branco é obtido através de um processo químico chamado refinamento. O refinamento da cocaína só é possível com a presença de alguns produtos químicos, principalmente éter e acetona. Ales destes se faz necessário o carbonato de potássio, querosene e acido sulfúrico.
Conclusão
Muito utilizada para ajudar a suportar a escassez de água comida e a alta pressão dos Andes a Erythroxylon coca é a planta de onde Niemann isolou o alcalóide cocaína.
Seu consumo foi muito difundido como cura medicinal sem embasamentos teóricos se quer experimentais no final do século XIX.
Após descoberta dos muito maleficios da cocaína e o surgimento da anfetamina , a cocaina caiu em desuso por décadas, voltando porem a ser utilizada na década de 70 quando os males da anfetamina foram divulgados.
Atualmente a cocaína é muito utilizada, em pó ou em forma de basta base (crack), mesmo sendo conhecido todo mal que ela pode causar pro indivíduo e pra sociedade.
Bibliografia
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http://www.monografias.brasilescola.com/historia/cocasagrada-medicinal-ilegal.htm acessado em 06/07/2010
http://brunamion.arteblog.com.br/68389/Cocaina/ acesado em 06/07/2010
http://pt.azarius.net/encyclopedia/33/Coca_na/ acessado em 07/07/2010
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